Acabar com os problemas de trânsito nas grandes cidades não é tarefa das mais fáceis, pois os congestionamentos acabam com o sossego de qualquer motorista, e as medidas paliativas das autoridades não irão resolver o problema do excesso de veículos nas vias públicas.
O problema do excesso de veículos e dos congestionamentos somente poderá ser resolvido com investimentos sérios das autoridades e com a melhora do transporte público dos grandes centros brasileiros.
Por exemplo, se existir um transporte público confortável, pontual e que não viva apresentando problemas, com toda certeza, o número de passageiros aumentará, pois, normalmente o custo do transporte público é inferior ao valor pago com combustíveis, além de que os veículos particulares requerem gastos com manutenção, impostos, estacionamentos, etc.
Agora, se o transporte público chegar sempre atrasado, for sempre superlotado, quebrar em cada esquina e não for objeto do menor planejamento, não há como convencer os motoristas a deixarem o veículo em casa e utilizarem o transporte público.
Eu mesmo, moro em Curitiba, que tem fama de ter um dos melhores transportes públicos do Brasil, e quando ouço esta afirmação fico estarrecido, pois se Curitiba tem o melhor transporte público do Brasil, eu não quero conhecer o pior transporte do Brasil.
Digo que o transporte público de Curitiba é péssimo, pois falta planejamento das linhas de e horários de ônibus, a cidade não tem metro, os ônibus vivem quebrados e se envolvendo em acidentes de trânsito, além de chegarem sempre atrasados e serem superlotados.
Agora pergunto, qual motorista em sã consciência deixará o conforto de seu automóvel para pegar um ônibus superlotado, atrasado, que quebra com muito e que se envolve em acidentes com frequência estarrecedora? Os motoristas somente utilizarão transporte público sob estas condições se forem loucos e não tiverem alternativas.
Está certo que o trânsito de Curitiba está horrível, pois a cidade tem em torno de um milhão e setecentos mil habitantes e em torno de um milhão e duzentos mil automóveis, mas é preferível ficar preso no trânsito no conforto de seu veículo do que ficar preso no trânsito num ônibus com 15 pessoas por metro quadrado e super-atrasado.
O tempo de trajetos dos ônibus de Curitiba é outro ponto que piorou muito nos últimos anos, pois fiz o teste na semana passada numa rota que levava uma hora para chegar de ônibus em 2009, e hoje levo duas horas, ou seja, o tempo dobrou em dois anos. E o pior é que esta rota não depende do trânsito, pois os ônibus circulam exclusivamente por canaletas exclusivas para ônibus.
Também tenho outros exemplos, um deles é para chegar da minha casa até a faculdade, pois levo neste trajeto de quatro quilômetros, cinco minutos de carro e quarenta minutos se optar pelo ônibus, sem falar que ainda gasto menos dinheiro com combustível que com o ônibus e a minha faculdade oferece estacionamento gratuito para os alunos. Não tenho como escolher o transporte público em detrimento do particular.
Se não bastassem todos os exemplos acima, ainda posso relacionar a minha casa novamente, pois existem cinco linhas de ônibus que passam perto de minha residência, e pasmem, pois os cinco ônibus destas linhas passam em vinte minutos e durante quarenta minutos não passa ônibus algum. Está claro que há problema de planejamento nestas linhas, o que obriga a população que tem automóvel a utilizá-lo no lugar do transporte público.
Não posso esquecer que a prefeitura acabou de lançar o maior ônibus do mundo em Curitiba e que o ganho de tempo com ele será fantástico, pois eles atenderão dois dos cinquenta bairros de Curitiba!
E os outros quarenta e oito bairros, como ficam? Isso a prefeitura não mostra, não mostra também que os “maiores ônibus do mundo com 28 metros de comprimento” são os únicos em bom estado, pois são zero quilômetros, e os demais ônibus sucateados que quebram a todo momento, como ficam? Por que a prefeitura de Curitiba não mostra que eles quebram em cada esquina todos os dias, e o trabalhador que depende deles nunca sabe se chegará a lugar algum a tempo?
É complicado viver numa cidade que tem o “maior ônibus do mundo” e um número infinitamente maior de ônibus que não funcionam por falta de manutenção, e o pior é que os ônibus que quebram o tempo todo são novos, a maioria não tem cinco anos de uso, não são ônibus velhos a ponto de justificar tamanho sucateamento.
E se não bastasse o lançamento dos maiores ônibus do mundo como medida paliativa para um transporte péssimo que beira o colapso completo, Curitiba sediará a Copa do Mundo de 2014. Sediará partidas da Copa do Mundo de 2014 com um trânsito sem a menor estrutura e com um transporte coletivo que beira o colapso por falta de vontade das autoridades administrativas de Curitiba.
Temo muito que após a Copa do Mundo de Futebol de 2014, Curitiba fique conhecida como a cidade do pior transporte coletivo do Brasil e supere rapidamente São Paulo como sendo a Capital brasileira com a maior quantidade de congestionamento.
A maior média de carro por habitante entre as capitais Curitiba já tem, e até congestionamentos fora dos horários de pico já são comuns nas principais vias da cidade.
A prefeitura de Curitiba vem investindo em novas vias para fazer o trânsito fluir com maior facilidade, mas esta medida e outras, como pedágio urbano, rodízio e redução do número de estacionamentos não irão reduzir o congestionamento da cidade.
O investimento em novas vias e redução do número de estacionamentos visam criar maior facilidade para os motoristas, o que, diante do péssimo sistema de transporte da cidade, vai contribuir para que os motoristas utilizem ainda mais o transporte particular em vez do transporte público, e a longo prazo, estas medidas farão o trânsito da cidade piorar ainda mais.
O pedágio urbano e o rodízio de veículos também não conseguirão resolver o problema, pois não apresentam alternativas para os motoristas que precisam se deslocar dentro da cidade, e diante da falta de alternativas, os motoristas serão obrigados a pagar os pedágios e a adquirirem outros veículos caso seja instalado rodízio em Curitiba, estas medidas servem somente para aumentar a arrecadação de impostos e não contribuem para que o trânsito da cidade melhore.
O que realmente pode resolver o problema do trânsito de Curitiba é um investimento maior e organização do transporte coletivo criando horários rígidos e melhores distribuídos, eliminando os atrasos, ampliando e redistribuindo o número de veículos e reduzindo o número de acidentes.
Isso sim faria com que diversos motoristas deixassem os veículos em casa e optassem pelo transporte público, porque não adianta continuar com as medidas paliativas que servem somente para dizer que algo está sendo feito, sem contudo, resolver o problema do trânsito em Curitiba que tende a crescer cada vez mais.
Isto também vale para as outras cidades do Brasil que sofrem com os problemas de trânsito e de transporte coletivo.
É necessário que a prefeitura escolha uma pessoa que realmente tenha vontade de resolver o problema para que algo de bom possa ser feito para o cidadão curitibano e o problema do trânsito seja resolvido, mas não acredito que isto aconteça, pois os cargos de confiança da prefeitura são escolhidos por interesses eleitoreiros e não pelo mérito da pessoa.
Eu mesmo me colocaria a disposição para resolver o problema do trânsito, mas tenho certeza que não tenho apelo eleitoral e, por conseguinte, não sou qualificado para resolver este problema crônico de Curitiba que será uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, infelizmente.
W. Navarro
Um comentário:
Concordo plenamente, faço há tempos os mesmos questionamentos que você. E digo que enquanto o transporte público for visto por uma ótica exclusivamente capitalista e não social, vai ser esta porcaria mesmo. E tem que tirar esta máfia desta URBS de gerenciar o transporte, bem como acabar com esse negócio de pagar as empresas por quilômetro rodado.
Mas queria completar outras coisas que solucionariam o problema:
-Acabar com o horário de pico, se sairem todos no mesmo horário é claro que congestiona. Tem que cada um sair num horário diferente.
-Parar de só construir indústrias nas capitais e espalhá-las nas outras regiões do estado.
-Investir no interior para não haver tanto êxodo rural e superlotar as metrópoles.
-Desestimular o processo de fazer prédios verticais, pois isso concentra muita gente num mesmo local. Tem mais é que horizontalizar e não verticalizar a cidade.
-Implantar o metrô e uma boa rede de ciclovias.
-Colocar ônibus suficientes e mais confortáveis com mais bancos.
-O ideal é proibir qualquer coletivo de andar lotado. O ideal seria só viajar sentado.
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